"Ninguém vive de suposições!", afirmamos por vezes perentoriamente. Será mesmo assim? Ou será que, sem nos apercebermos passamos a maior parte da vida a acreditar em suposições?
Os pais fazem aquilo que acham ser o melhor para os seus filhos. Mas será mesmo? Quantas vezes não agirão e tomarão decisões sem sequer se interessarem por conhecer um pouco melhor os seus filhos, apesar das boas intenções. Tais atos muitas vezes são baseados em meras suposições! Suposições, transformadas em ações que causam infelicidade por vezes, e vão aos poucos tornar-se num sufoco, originando em vez da satisfação um grito de revolta dos filhos!
Quantos casais não constroem as suas relações em suposições, achando que tudo o que fazem, tem por objetivo a felicidade do seu companheiro. Mas quantas vezes esses casais param para falar sobre os seus verdadeiros ideais de vida, e os seus reais sentimentos?
As pessoas julgam que já conhecem o outro e as suas necessidades, não precisam de conversar para entendê-lo, têm a certeza do que o outro quer. Mas será que têm a certeza ou apenas supõem?
Estou a lembrar-me de um caso que infelizmente se tem tornado algo banal. A história de um casal apaixonado, que todos achavam perfeito e que ao fim de alguns anos acabou por se separar. O motivo era simples. Ele quis a todo o custo subir na vida, porque achava que o objetivo de ambos era o estatuto social e uma conta bancária confortável. Ele trabalhava sem parar e incitava-a a fazer o mesmo. Ao fim de uns tempos, mal se viam e pouco tempo tinham para falar. Até que um dia ela se cansou e ao conflito latente rebentou.
Ela não queria mais aquela vida, aquela relação. Não queria luxo, nem dinheiro, queria apenas alguém a seu lado, que tivesse tempo para ela. Queria uma relação, talvez com menos conforto mas com mais felicidade. Ele achou que ela estava a ser injusta. No seu modo de ver, ele nunca lhe tinha faltado com nada. E na verdade não lhe tinha faltado com nada que fosse de ordem material. Mas faltava o essencial, o afeto, o amadurecer da própria relação. Ele não percebeu que na realidade apenas supôs que a estivesse a fazer feliz.
As pessoas mudam, por vezes transportam sonhos e ideais durante uma vida inteira, outras vezes é o caminho da vida que lhes desperta novos ideais e novos desejos. As pessoas são por vezes para elas próprias enigmas indecifráveis. Talvez seja um ato de egoísmo encapotado dizermos e pensarmos "Estou a fazer o melhor para essa pessoa"; talvez seja honestamente o que pensamos, mas quantas vezes ousamos a pedir a opinião do interessado?
Será que custa assim tanto de vez em quando pararmos um pouquinho de supor tão leviana e inconscientemente? Parar, para conhecermos verdadeiramente aqueles que nos rodeiam, para salvarmos as nossas relações. Cultivá-las em terreno fértil, regá-las com afeto, adubá-las com diálogo e renová-las com a luz do conhecimento, para que a harmonia, a verdadeira felicidade e o entendimento possam florescer lado a lado viçosos e coloridos.
Supostamente é o que todos desejamos ou estarei eu a fazer apenas uma mera suposição?
O que ficou foi a palavra liberdade, liberdade de expressão, liberdade de escolha, liberdade de pensar, sentir, expressar…
Só que ainda hoje a nossa sociedade vive amordaçada pelo passado com medo do que é diferente, sem aceitar que Liberdade é isso mesmo. É ter o direito de ser diferente, sem que a sociedade olhe de lado.
Parafraseando um slogan de que gosto, “Todos diferentes, todos iguais” e não é publicidade, gosto do conceito de aceitar a existência da diferença e do respeito pela igualdade da Liberdade. Que mais que celebrar a Liberdade, saibamos pô-las em ação no nosso quotidiano, que seja presente nos nossos ideais e nas nossas ações.
Pedi ao tempo que voltasse para trás. Ele respondeu-me que não podia, que no leito da vida não havia tempo para voltar para trás. Tinha de seguir de em frente como os rios, por caminhos por vezes sinuosos. Mas não podia voltar para trás,como as águas do rio tinha que correr sem parar.Ele disse-me que a única diferença que existia entre ele e os rios é que estes correm para o mar e ele não sabe onde a sua corrida vai parar. Só sabe que não pode voltar para trás, que não pode parar. Disse-me que tal como os rios não me podia devolver o que me tinha tirado pelo caminho. Mas, que eu se eu o acompanhasse teria sempre comigo as minhas recordações e sonhos de outrora. Disse-me também que se eu o acompanhasse me traria novos sonhos, novas oportunidades. Eu respondi-lhe que ia tentar, mas que por vezes ele corria depressa demais e eu perdia-lhe rumo. Ele respondeu– me que não, que nunca andava nem mais depressa, nem mais devagar, que caminhava sempre com a mesma passada. Pois se não podia parar, não podia avançar, nem se podia atrasar na sua caminhada. Disse-me que eu não me apercebia, mas que eu é que não tinha vontade de o acompanhar nessas alturas e por isso lhe perdia o rumo. Fiquei pensativa e concordei com ele em tudo. Sim o tempo já tinha levado com ele, muitas coisas que me pertenciam. Momentos que eu daria tudo para viver de novo, pessoas que não voltei a encontrar, sonhos que não consegui realizar. Também tinha levado consigo os maus momentos. De facto ele deixara-me apenas as recordações e as frustrações, em que por vezes ficava tão embrenhada que me esquecia, que o tempo não parava e não o conseguia acompanhar. Mas o tempo não parou. Não parou e trouxe novos momentos de felicidade que eu tento agarrar, para que eles não se percam na correnteza do tempo, no leito da vida. Trouxe-me novas perspectivas de vida, novos motivos para ser feliz e sonhar, novas oportunidades, novos sonhos por concretizar. Ele disse-me que não era ele que nos dava ou retirava nada. Éramos nós que sabíamos ou não acompanhar a sua caminhada retirando o que de bom o tempo trazia com ele e deixando escapar na sua correnteza alguns sonhos, alguns momentos felizes e alguma tristeza. Então eu percebi,que quanto melhor eu o pudesse acompanhar, melhor aprenderia a aproveitar o melhor que o tempo trazia ao de cimo do leito da vida. Aprenderia guardar o não queria que ele levasse na sua corrida e a deixar escapar na sua correnteza as tristezas da vida. Foi quando lhe ia perguntar para onde ele seguia agora e vi que ele já tinha passado e eu tinha que viver intensamente para o conseguir acompanhar.