Tenho andado aqui a pensar
Sobre o bebé que foi salvo do contentor
Dei um trabalho aos meus alunos que consiste em pararem de se criticar e insultar uns aos outros e escrever 3 qualidades que cada um dos colegas tem. Têm tido imensas dificuldades. Eu própria fiz o exercício em casa ( referente aos meus colegas, não aos alunos)e se para uns foi muito fácil, para outros tive de me esforçar bastante.
A verdade é que parece que na nossa sociedade se tornou mais fácil, insultar, criticar, apontar o dedo às falhas dos outros do que ver o lado positivo das pessoas e tentar “calçar os sapatos dos outros”
Tenho andado aqui a pensar no caso do bebé que foi salvo do lixo e sabem o que me tem ocorrido?
Um sem abrigo encontrou o bebé e salvou uma vida, mas tirando uma manchete ou outra nos jornais e uma referência ao facto de ser este que deu o alerta, ninguém se interessou por ele. Começa logo por ser tratado pela imprensa por “um sem abrigo”. Certamente terá um nome, será que alguém se interessou pela história daquele homem, que numa das curvas da vida virou sem abrigo? Será que alguém se interessou em ajudá-lo e recompensá-lo por ter salvo uma vida?
Afinal todos os louros foram para a equipa do INEM que sem lhes tirar o mérito cumpriram com a sua função, mas quem salvou a vida desta criança foi o Homem que alertou para a situação ( sim não me enganei homem com H). Não merecia este Homem que também salvassem a sua vida????
E a propósito da mãe do bebé, muito se criticou muito se falou, mas alguém calçou os sapatos dela?
De acordo com a polícia Judiciária e o IAC nem sequer apresentava sinais de toxicodependência. Sofrerá alguma perturbação mental? Li recentemente um artigo onde um médico responsável por um hospital psiquiátrico afirmava que existiam muitos sem abrigo cas perturbações mentais. Sabem se aquele bebé nasce fruto de uma violação? Ou em que circunstâncias ocorreu?
Hoje alguém me dizia: ”entregasse o bebé” num Hospital e eu concordei, mas respondi” Pois mas num Hospital teria de dar a cara”.
O ato que cometeu é certamente desumano e eu como mãe não o consigo conceber. Porém, esta mulher não teve certamente uma voz que a orientasse neste sentido.
Felizmente embora já tenha passado por situações muito difíceis nunca calcei os sapatos desta jovem. E se nunca os calcei foi porque nas situações difíceis que passei ,tive sempre uma mão amiga que me ajudou a levantar.
Mas a verdade é que se trata de uma mulher jovem de 22 anos numa situação de vulnerabilidade e em causa de desespero. Concordo com a advogada Susana Pereira que no programa “Nós na TV” afirmou que ela não quis matar o bebé, pois quantas mães não sufocam os seus bebés quando nascem? Será sim uma pessoa em negação que que quis apagar aquele momento da sua vida.
Tenho também aqui andado a pensar se foi de facto uma coincidência o sem abrigo ter encontrado aquele bebé?
Não teria ele percebido a situação? Ou… até já fiz aqui uma novela na minha cabeça, que teriam combinado...
Seja o que for correndo o risco de me tornar muito impopular, acho que a sociedade não deve condenar mais esta jovem mulher. E agora que já se encontra presa concordo com o meu amigo Beto Muniz, acho que também lhe deviam amputar o dedo.