Hoje neguei um abraço…
( e vocês sabem que eu adoro abraços)
Foto retirada da internet com link de referência. Não sou eu, mas a imagem é como se fosse a minha hoje.
Hoje neguei um abraço e senti-me mal, muito mal. Pedi desculpa expliquei e encolhi os braços e cruzei-os como se me abraçasse a mim própria , na realidade talvez o tivesse feito, porque não queria negar aquele abraço e disse que aquele abraço também era para aquelas meninas que corriam para mim ainda com aqueles sentimentos de infância que espalham e buscam afetos, que era como se abraçasse aquelas meninas que terminaram o 4º ano em casa, sem ver os colegas, sem se despedirem das professoras, a quem os afetos no espaço que agora as acolhe foram negados.
Tento sorrir com os olhos, mas queria ter dado aquele abraço porque é quem sou. A professora exigente, a que ralha, a que não lhes admite barulho, mas também a que lhes dá abraços e os trata por filhos, a que lhes levanta a voz quando é necessário, mas a que lhes dá a mão quando os vê sem chão. E doeu negar aquele abraço, ver a palavra rejeição estampada naqueles rostos de meninas que ainda agora entraram no quinto ano.
Mas expliquei o quanto me custou dizer que não e que lhes dizia que não para o bem delas.
Que tempos estes em que vivemos em que temos de negar os afetos que tão difícil e raramente nos são oferecidos na nossa profissão de docentes .
Fiquei a pensar que terei de reinventar os afectos, os abraços que ficam no ar, para que eu nnão volte a ver e a sentir estampado no rosto de uma criança a palavra rejeição.
Mas e se as abraçasse? Talvez nada de mal acontecesse e aquelas crianças fossem mais felizes na escola.
Mas e se… se algo corresse mal, se contraíssem o vírus mesmo que não fosse por mim,
Eu teria infringido as normas.
Contudo não consigo deixar de me perguntar como serão os adultos do futuro a quem uma pandemia roubou os afetos?