Romance triste de um lápis.
Ele era um lápis especial, feito da melhor madeira, o seu interior era feito da grafite mais pura, aprimorada pelas gomas e resinas de maior qualidade. Quase todas as Lapiseiras o adoravam, mas ele achava que estas tinham uma personalidade muito artificial. Afinal ele era um lápis genuíno de esmerado fabrico. Era uma verdadeira criação da Natureza. Um dia, ela chegou. Foi como que uma lufada de ar fresco entre folhas de papel amachucadas, lapiseiras artificiais e borrachas gastas pelo tempo. Aquela borracha parecia diferente. Juntos poderiam formar uma equipa imbatível, pois certamente com um aspecto daqueles, ela só traria perfeição ao seu trabalho. Via-se que era uma borracha exigente com o seu trabalho. Assim que chegara apagara logo alguns rabiscos mal desenhados pelos seus companheiros já gastos e destreinados,cuja grafite nunca fora de tão boa qualidade como a sua tornando-lhes a escrita deselegante e áspera.
Estava certo de ter encontrado a sua alma gémea. Decidiu declarar-se-lhe. Assim que vislumbrou uma folha de papel imaculadamente branca e pediu-lhe ajuda para o efeito. A folha de papel não resistiu aos encantos do lápis e deixou que este a preenchesse com as suas palavras de amor para a borracha.
-És linda. - Escreveu ele.
A borracha limitou-se apagar o que ele escreveu.
Claro – pensou ele. - Uma borracha exigente quer algo mais.
-Tens umas formas perfeitas.
A borracha tornou a apagar o que o lápis escrevera. Cego pela paixão, achou que ela queria que ele lhe escrevesse mais palavras belas.
-A tua pele rosa é tão macia, tão bela e tem um toque de veludo.
A borracha tornou apagar o que ele escrevera. Porém cego e convencido de que a borracha estava conquistada por si e quisera apenas dar-lhe de novo a sentir o toque da sua pele, voltou a escrever palavras de elogio à perfeição da borracha, palavras de admiração e juras de amor eterno. Todas as frases escritas pelo lápis, a borracha apagou friamente, palavra, por palavra, letra por letra, se tornar numa borracha vulgar e demasiada gasta.
O lápis triste e desiludido com borracha, desabafou com a folha que se tornara a sua melhor amiga. Contou-lhe das suas ilusões, como pensara que esta borracha pudesse aperfeiçoar o seu trabalho, mas como se desiludira ao ver que ela apenas sabia destruir o que os outros criavam e a si própria. Desabafou o seu desejo de encontrar uma alma gémea que absorvesse os seus pensamentos e soubesse trabalhar em equipa com ele. Foi então que reparou que a folha estivera sempre do seu lado, apoiando-o, absorvendo as suas ideias, tornando-as reais. Percebeu que a sua alma gémea estivera sempre ali e ele nunca vira. Não a ia perder. Declarou-se. A folha ficou feliz por finalmente ter percebido que ela estava ali. Mas era tarde demais, a sua vida estava a terminar. Tinha ficado gasta, amachucada e ferida demais pelo escrever e o apagar das declarações de amor à borracha. O lápis amargurado por ter perdido o seu verdadeiro amor, por sua culpa deixou-se afiar até ao fim e nunca mais quis escrever uma letra que fosse.
conto de ficção escrito por mim
ilustração da internet.